Como se importa uma crise

Por Claudio Luiz Haddad
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Havia uma cidade do interior chamada Santa Alegria. Por ser tão distante da capital, o vilarejo não tinha acesso às notícias do “mundo” e os sinais de TV só captavam programas evangélicos, musicais sertanejos, programa de humor, desenhos e esportes. Ma isso não impedia que seus moradores vivessem felizes, cada um prosperando em suas atividades. Seu Dito tinha uma pastelaria que ficava na entrada da cidade e era parada obrigatória por todos que passavam por lá. Seus pastéis eram grandes e tinham um farto recheio fazendo com que as pessoas fizessem fila para comprar aquela delícia. Seu Téo também comemorava a produção de ovos e tomates que ele vendia para a pastelaria e do feijão que ele vendia para o armazém do seu Manoel. O prefeito de Santa Alegria estava planejando asfaltar a entrada da cidade devido ao aumento de turistas que vinham conhecer de perto a contagiante alegria de seus moradores.

Seu Manoel com o movimento dos turistas que visitavam a cidade, conseguiu fazer mais uma casinha e alugar para Maria que foi contratada para trabalhar no salão de Cabeleireiro de Amélia, pois a clientela tinha dobrado fazia meses.
Certo dia, um rapaz da cidade grande que passava por lá parou na pastelaria de seu Dito e ao ver o tamanho do pastel e a quantidade de recheio comentou:
– O senhor devia economizar mais no recheio e diminuir o tamanho do pastel, pois a crise está chegando e vai parar toda a economia.
– Que crise?- perguntou seu Dito.
– O senhor não lê Jornais? Não vê televisão? Existe uma crise mundial. O mundo está sem dinheiro. Os bancos estão falindo, as montadoras fechando, as empresas estão cortando gastos e demitindo. E o senhor fazendo um pastel tão grande como este. Isso é suicídio.

O rapaz continuou falando da recessão americana, da crise do subprime, falou da previsão de queda do PIB da China, no terrorismo na índia e no mundo. Rosa, uma moradora da cidade que estava na pastelaria e ouviu toda a história, correu até o salão de Amélia e cancelou o corte de cabelo que faria no sábado, alegando estar se preparando para enfrentar a crise. E repetiu para todas que estavam lá a mesma história do viajante e aproveitou para colocar um pouco mais de pessimismo. Diante do desespero de Rosa, outras clientes cancelaram suas unhas. Amélia preocupada com a crise despediu Maria, alegando contenção de despesas. Os dias foram passando e o que mais se falava na cidade era a chegada da tal crise.
Maria disse para o seu Manuel que não poderia pagar o aluguel, pois estava desempregada. Com menos dinheiro, seu Manuel passou a comprar menos feijão de Teo, que com medo da crise investiu pouco na lavoura e não colheu quase nada de tomate e poucos ovos. Isso fez aumentar o preço desse produto e encarecer o pastel de seu Dito, o qual a essa altura já estava pequeno e com pouco recheio. Por causa disso o movimentou da pastelaria despencou.

Rapidamente o pessimismo se espalhou pela cidade e todos só queriam saber o que fazer para enfrentar a crise e quando ela iria acabar. O prefeito resolveu cancelar o asfalto que faria na entrada da cidade e construir uma grande antena de televisão para que todos pudessem estar acompanhando as notícias da crise. Agora com informações diárias a população foi ficando cada vez mais deprimida, preocupada e triste. O turismo parou, pois ao invés da antiga alegria dos moradores, agora só se ouvia lamurias e reclamações. Aumentou os casos de depressão e insônia que não podiam ser resolvidos na cidade, pois o analista e o farmacêutico também estavam deprimidos. As pessoas iam para a cidade e voltavam ainda mais deprimidas com as notícias que ouviam.
Um dia aquele morador da cidade grande que falou sobre a crise, voltou na pastelaria. Seu Dito o reconheceu e disse.
– O senhor pode pedir o pastel que quiser, pois não vai pagar nada. Realmente tudo que o senhor falou era verdade. Se o senhor não tivesse nos alertado sobre essa crise, a gente não teria nos preparado para ela e estaríamos fritos que nem meu pastel.

“Talvez seja um exagero dizer, ou nem tanto, que a tal crise tem sido a nova Isabela, o novo rapaz de Santo André para boa parte da mídia. Tem sido raro ouvir alguma versão que apresente a possibilidade de vermos uma luz no final do túnel. E eu gosto de acreditar que exista.” ( texto do blog do Márcio Alemão editado no dia 8 de Dezembro).

O otimismo é a segunda coisa mais contagiante que existe. Só perde para o pessimismo. Em minha opinião, isso acontece por que o saldo da balança entre importação e exportação de otimismo está muito desequilibrada: As pessoas importam muito mais pessimismo externo do que exportam o seu otimismo interno, mesmo porque o pessimismo pode ser trocado, atualizado. Na prática seria dizer: – “Vamos trocar más notícias”. Você aumenta meu estoque de pessimismo que eu aumento o seu. É chato constatar, mas parece que o ser humano gosta de tragédia. Só se fala em crise, agora. E o pior, é que as pessoas perderam a noção de qual crise estão falando: A que existe ou aquela que ela acha que existe? Cada um já está falando da sua crise. Por quê?

Porque a crise vende notícias, dá ibope, é uma ótima desculpa para não fazer, desistir de investir, cortar projetos, demitir, proporciona mais conversas nas rodas de amigos, e é mais fácil de encontrar quem esteja interessado em ouvir. Não se trata de fechar os olhos para a crise e fingir que ela não existe. O mundo passa sim por uma recessão, mas tal qual o exemplo da estória, cada um cria a sua própria crise de acordo com a reação que dá para os acontecimentos.

Existe uma crise mundial, mas o que se mais fala é da crise que cada um criou dentro de si. A crise que se estampa nas manchetes, nos noticiários, que enchem a boca das pessoas é na maioria das vezes, uma versão pessimista pessoal do que está acontecendo. A bolsa em um dia amanhece uma maravilha, mas basta uma frase, um comentário negativo que ela cai. Basta uma manchete no jornal ou comentário de algum pessimista que na mesma hora as pessoas param de comprar, vendem ações, empresas cortam verbas, projetos.

O mundo para. Uma amiga minha trabalha com imóveis e me contou que estava para fechar um negócio com um cliente que tinha o valor do apartamento à vista, ganhava bem e de repente veio a crise e o comprador desistiu. Falou que ia esperar. Esperar o que? A crise passar. Provavelmente esse cliente, bem como milhões de pessoas, empresas, órgãos públicos, governos estejam esperando um arauto celeste anunciar: A crise acabou! Saiam de dentro do armário, pois agora estão autorizados a viver.

E sabem quando isso vai acontecer? Nunca. Se você estiver sentado em cima do seu medo, agarrado no seu pessimismo e esperar que a crise acabe, sinto em lhe dizer que ela nunca irá acabar. Sabe por quê? Por que você está cultivando essa crise. Minha filha de 12 anos queria comprar um perfume e minha esposa falou que agora não era o momento e como todo mundo, pôs a culpa na crise e falou que tínhamos de esperá-la passar. Minha filha respondeu: “Mas se as pessoas não comprarem, as empresas não vão ter dinheiro. Sem dinheiro elas vão fechar. E isso faz com que a crise nunca acabe” Embora a resposta não seja tão simples assim, podemos aproveitar alguma coisa: Se você alimentar a crise e não agir, ela não vai acabar. Se você pensar todo dia na crise que criou, ela vai crescer.

“ Na crise, enquanto uns choram, outros vendem lenço” Esse é um momento de seleção. Segundo estudos da fundação Dom Cabral, as empresas que tem a capacidade de interpretar os acontecimentos e agir com rapidez antes dos concorrentes, leva grande vantagem quando a crise acabar ou melhorar. São empresas que tem visão de futuro e se arriscam mais. Investem em publicidade, lançam produtos, treinam seus funcionários. Existem pessoas que se adaptam a uma situação e outras que se acomodam diante delas. Se adaptar é fazer a situação, a dificuldade trabalhar a seu favor. Eles se preparam para enfrentar as mudanças. Muitas vezes eles se antecipam e fazem com que as mudanças se adaptem a situações deles. Outros porém, se acomodam diante da crise, das dificuldades. Esperam a poeira passar. Estão acomodados, escondidos dentro da zona de conforto. Usam a crise como uma desculpa, enquanto que outros usam a crise como oportunidade. Quem faz acontecer e se destaca diante das dificuldades enfrentando a crise, “gosta de fazer poeira ” . As que se acomodam e só esperam acabam “comendo a poeira”.

Transformar o medo em estratégia é o que prega a empresária Luiza Trajano, superintendente da rede varejista Magazine Luiza. Ela disse recentemente em um evento: “É hora de investir e pegar o cliente dos outros”. Isso não quer dizer que devemos “roubar cliente”, mas aquele que fica parado perde mercado. Pessoas negativas perdem amigos, negócios, oportunidades e é claro, dinheiro.

Vamos exportar otimismo. Só isso que vence a crise. Quando a bolsa sobe, é porque alguém ou “muitos alguéns” conseguiram exportar o otimismo para o mercado. Não podemos depender apenas do otimismo alheio para sobreviver. É claro que ele ajuda e nos anima, mas vamos aprender a ver as coisas de uma maneira melhor. Não esperar a crise passar, nem chegar. Vamos viver nosso presente, pois é a partir dele que iremos construir nosso futuro. Você quem controla seus pensamentos. Desenvolva e comece a exportar boas notícias, coisas boas, otimismo.
Exporte a solidariedade Brasileira que ajudou as vitimas da enchente de Santa Catarina, ao invés de importar só as notícias da catástrofe.

Exporte o esforço de pessoas que driblaram as adversidades e venceram e não dos pessimistas que esperam o pior
Exporte os negócios e realizações que você fez este ano e acredita que irá fazer ainda mais no próximo ano, ao invés de ficar pensando no que deixou de fazer.
Exporte o esforço das pessoas e empresas que querem vencer a crise.
Exporte notícias de fé, de saúde, de trabalho.

Exporte o cliente que comprou, a empresa que investiu, as coisas boas que lhe aconteceram.
Exporte o casal que está apaixonado, ao invés daqueles que querem se separar.
Exporte os seus ganhos e esqueça o que deixou de ganhar.

Não espere um arauto celestial autorizá-lo a sair do esconderijo e voltar a consumir, viver a sua vida para ser otimista. Seja você um arauto, para si mesmo e para os outros, não propriamente anunciando que a crise acabou, mas exportando otimismo, entusiasmo, fazendo acontecer, comprando, produzindo, desenvolvendo. Quem sabe assim, como tantas tragédias e notícias ruins do passado que perderam sua importância, seu ibope e sumiram, essa crise não faça o mesmo e sinta que não possui mais espaço e desapareça. Pelo menos de nossa mente.

Abraços nos coração

Claudio Luiz Haddad é consultor e palestrante. Contato: 11 32890900     

 

 

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