A possibilidade de ascensão do varejo em tempos de crise

Por Viviane de Carvalho Lima

Diversas medidas podem (e devem) ser adotadas pelo comércio
varejista para garantir a sobrevivência durante a crise e também para sua expansão, apesar da indefinição das economias brasileira e mundial.

É muito provável que um dos temas que mais tenha fomentado as discussões atuais, seja nas conversas informais e nas Assembleias Legislativas, consista na eminência de uma crise econômica de grandes proporções. Os mais pessimistas (e, há quem diga, os mais realistas) inclusive afirmam que o país já se encontra mergulhado nela. Já os mais otimistas defendem que se trata de uma onda passageira, em vias de ser estabilizada.

Fato é, no entanto, que não se pode ignorar que há constantes indicativos que evidenciam que a economia brasileira não vai bem. O próprio Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reconheceu, em sua carta de conjuntura de outubro, que o Brasil vive um cenário de “recessão técnica”, caracterizada por uma sequência de dois trimestres com queda no Produto Interno Bruto (PIB).

Na esfera varejista, os primeiros sinais de crise se mostram na medida em que esta, ainda que não tenha deixado de se expandir, cresceu em proporção consideravelmente menor do que o esperado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em estimativa divulgada pela revista Exame, por mais que as vendas no varejo tenham subido 1,1% em agosto sobre julho, se comparado com o mesmo período de 2013, verifica-se que houve um recuo também de 1,1%. Some-se a isso a crescente desconfiança e endividamento dos potenciais consumidores, que, diante de tal quadro socioeconômico têm preferido adotar uma política de contenção de gastos.

Diante de panorama tão delicado, é imprescindível que o varejista não se deixe abater pelo alarde, mas encare a situação como uma oportunidade de se reinventar e traçar metas e medidas objetivas e racionais, as quais, não apenas o ajudarão a contornar a crise, mas a utilizá-la como fator de crescimento.

Entre tais medidas, considerando-se a profusão de leis tributárias cada vez mais intrincadas, obscuras e complexas, está a necessidade de se efetuar um bom planejamento tributário. O objetivo é permitir que o varejista se programe com antecedência quanto ao pagamento de seus tributos, sabendo exatamente quais são efetivamente devidos e em quais proporções. Dessa forma não apenas evitará o pagamento indevido de determinadas obrigações, como poderá eventualmente reaver quantias pagas a maior e minorar a carga tributária a ser suportada, dentro dos limites estipulados pela legislação. Evitando, assim, o inadimplemento e a consequente imposição de pesadas multas fiscais e mesmo de implicações criminais.

Além do planejamento tributário, se faz necessário que a empresa varejista busque um bom gerenciamento de sua logística, aumentando sua eficiência ao antecipar as necessidades de seus consumidores, evitando excessos no estoque e a consequente danificação de mercadorias. O que acabará por culminar em uma redução nos custos de armazenagem e transporte, bem como no gasto com a aquisição de produtos.

Deve-se investir ainda em políticas preventivas, tais como treinamentos de equipe e transparência, de modo a garantir um melhor tratamento ao cliente, levando-se em conta os ditames do Código de Defesa do Consumidor, entre outros. Isso não apenas diminuirá o volume das ações consumeristas a serem suportadas – o que por si só já consiste em uma considerável economia – como também incorrerá na fidelização do cliente, o qual anseia por ser bem atendido e ver seus direitos respeitados.

A preocupação, inclusive, deve ir além da preocupação com o consumidor, abrangendo também os fornecedores e os funcionários. No caso destes últimos, pode ser interessante o investimento em bons planos de carreira, aptos a conferir-lhes satisfação e estabilidade, o que não somente diminuirá o fluxo das demandas trabalhistas como possibilitará que estes, desempenhando também o papel de consumidores, desvencilhem-se da desconfiança com o mercado e se sintam seguros para gradualmente voltarem às compras.

É indiscutível o fato de que com a adoção de medidas como as aqui relacionadas, a crise, longe de provocar o naufrágio de diversos varejistas, se converterá em uma ótima oportunidade de reestruturação, servindo como alavanca para o crescimento mais sólido e fortificado do varejo e se traduzindo em uma excelente ocasião para fazer negócios.

Viviane de Carvalho Lima é advogada, com atuação voltada ao setor varejista do escritório AAG – A. Augusto Grellert Advogados Associados

 

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