Por Mauro Calil
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Muito frequentemente recebo a seguinte pergunta: “Tenho X mil reais para investir. Qual a melhor aplicação financeira?”. Uma variante deste questionamento seria: “Posso destinar Y reais todo mês para investimentos. O que devo fazer?”
Estas perguntas remontam de uma época de inflação alta, de 20% a 30% ou mais ao mês. Perguntávamos exatamente isso ao gerente do banco de nosso relacionamento, que puxava no sistema quatro ou cinco alternativas. Via de regra, eram investimentos de renda fixa. Colocávamos todos os recursos em um único produto financeiro, que retirávamos ao longo do mês para pagar as contas ou ajudar na troca do carro, por exemplo. Infelizmente, o mundo financeiro já não é tão simples e, felizmente, já não temos índices inflacionários tão elevados. De qualquer forma, a cultura de colocar todos os ovos em uma única cesta, que foi forjada por anos de inflação alta e falta de alternativas, permanece até hoje.
Para conseguirmos uma melhor alocação de recursos, precisamos responder três perguntas: Qual o montante a ser investido?; Qual o prazo deste investimento?; e Qual o objetivo de consumo final para estes recursos?
A primeira pergunta é a mais fácil de ser respondida, afinal normalmente as pessoas sabem quanto possuem disponível para investimento. O importante aqui é perceber que praticamente todos têm como premissa que investir R$ 100, R$ 10 mil ou R$ 1 milhão é diferente. Porém, isso não é necessariamente verdade nos dias de hoje. Muitas aplicações financeiras em renda fixa ou renda variável têm exatamente o mesmo custo, mesma rentabilidade, segurança e liquidez para qualquer quantia.
Iniciativas novas como o CDB direto começam a surgir e mesmo o popular Tesouro Direto, já disponível há muito tempo, são alternativas na renda fixa para quantias diversas. Na renda variável, a democracia impera há muito tempo, afinal o preço de mercado de uma ação é exatamente o mesmo para quem ganha salário mínimo ou para milionários. Se o custo de aquisição se torna caro pela corretagem, DOC ou custódia, os fundos se mostram como alternativas muito baratas.
Quando faço a segunda pergunta ao interlocutor, quase que invariavelmente escuto: “Minha visão é de longo prazo, porém quero poder resgatar caso venha a necessitar do dinheiro”. Ora, que visão de longo prazo é essa? Qual a premissa para a expressão longo prazo? Qual a prioridade: ter o dinheiro na mão assim que quiser (liquidez) ou privilegiar a rentabilidade maior?
Nesta confusão de prazos, será muito difícil tomar a decisão mais adequada. Devemos ter dinheiro disponível para todos os períodos. O curtíssimo prazo, até seis meses, é voltado para pagamento de nossas contas, prazeres frugais, enfim, o dia a dia. O curto prazo, até dois anos, pode ser exemplificado com quando fazemos cursos de especialização, viagens longas com a família, etc. O médio prazo, de dois a cinco anos, representa quando planejamos trocar de carro, reformar a casa etc. E prazos longos, acima de cinco anos, devem ter como objetivo pagar a faculdade dos filhos, comprar uma casa de veraneio, ter uma segunda lua de mel, ter rendimentos descentes na aposentadoria etc.
Perceba que prazos e prioridades andarão juntos. É importante colocar atenção a todas as prioridades de tal forma que não se transformem em urgências. Para ajudar nesta tarefa, é importante responder a terceira pergunta: “Qual o objetivo de consumo final para estes recursos?”. Achar esta resposta tem-se mostrado algo árduo para os investidores. Quando conseguem responder, ouvimos: “Ganhar dinheiro.”
Em minha opinião, o dinheiro é um meio e não um fim. Portanto, um dia você irá querer trocar o dinheiro investido mais seus frutos por algo. Se você não tem e menor idéia do destino que será dado àqueles recursos, provavelmente se contentará com uma rentabilidade menor desde que segura e líquida.
Prazo e destino dos investimentos andam de mãos dadas e são decisivos para elencar as prioridades do investidor, fazendo com que ele assuma premissas mais acertadas no momento de escolher quais produtos financeiros farão parte de seu portfólio.
Já não existe mais uma resposta única. Precisamos manter em nossos ativos Renda Fixa, Renda Variável e Imóveis. Dentro dos grandes grupos existem muitas alternativas. Responder às três perguntas auxiliará a escolher o mais adequado a realidade de cada um.
Mauro Calil é palestrante, educador financeiro e autor do livro “A Receita do Bolo” – www.calilecalil.com.br
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