Educação alimentar e a redução da pobreza

Por Edmundo Klotz
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A redução do número de pessoas pobres no País entre 2003 e 2009 e a constatação de que a presente crise econômica não provocou o recrudescimento do problema são notícias muito positivas contidas no estudo “Desigualdade e Pobreza no Brasil Metropolitano Durante a Crise Internacional: Primeiros Resultados”, recentemente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No período, segundo o relatório, quatro milhões de pessoas cruzaram a fronteira da miséria, ingressando no mercado de consumo.

A redução de 26,8% na taxa de pobreza é explicada pelo Ipea como resultante de políticas públicas como a expansão do crédito, redução da taxa básica de juros, aumento do salário mínimo e programas como o Bolsa Família, que acaba de ser ampliado pelo presidente Lula, com o aumento de 62 para 68 reais no benefício básico e de 20 para 22 na quota variável por criança. No caso de adolescentes, o novo valor é de 33 reais. O programa, deve-se frisar, tem dotação orçamentária de 12 bilhões de reais em 2009.

A contrapartida a todos esses números é que persistem no Brasil, concentradas principalmente nas áreas metropolitanas, cerca de 15 milhões de pessoas atingidas pela pobreza. Esse déficit social, equivalente à totalidade da população do Chile, talvez fosse hoje bem menor caso se dirigissem os vultosos recursos aplicados em políticas de cunho estritamente assistencialista a investimentos geradores de emprego e renda sustentável. Esta é uma árdua e complexa discussão, que também passa pelo ingresso da economia nacional num ciclo mais consistente e duradouro de expansão do PIB e inclusão social por meio do trabalho.

Feita a ressalva, é importante entender o que significa a ascensão de quatro milhões de brasileiros ao patamar de renda imediatamente superior à linha da pobreza. O principal impacto refere-se à alimentação, prioridade absoluta. Por isso, é fundamental a disseminação de bons hábitos nutricionais, não apenas entre os novos consumidores, como, aliás, para toda a população. É crucial que o consumo de alimentos atenda aos parâmetros de dietas saudáveis, capazes de garantir a saúde de crianças, adultos e idosos. O preceito básico é que nenhum alimento é nocivo. Pode-se comer de tudo, desde que de maneira equilibrada e sem exageros. Também é primordial manter bons hábitos de vida, sem sedentarismo e com a prática de exercícios físicos compatíveis com as condições de cada indivíduo.

Em âmbito das políticas publicas, por outro lado, é necessário, em primeiro lugar, garantir ao Brasil a capacidade de produzir alimentos em quantidade suficiente para atender à demanda interna. Devemos entender o conceito “demanda interna” como a totalidade da população, pois não podemos vislumbrar um futuro imediato em que haja brasileiros sem acesso à dieta nutricional mínima recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa imprescindível lição de casa, a indústria alimentícia tem papel relevante, considerando ser responsável hoje pelo abastecimento de 85% de toda a comida consumida no Brasil.

Quanto à educação alimentar, é fundamental para que a população seja cada vez mais saudável, um aspecto decisivo e prioritário dentre os fatores condicionantes do desenvolvimento. Assim, se é muito passível de discussão a eficácia de políticas meramente assistencialistas como estratégia para a mitigação da miséria, não há qualquer dúvida quanto a um preceito cabal: a disseminação de bons hábitos nutricionais é imprescindível para que o consumo de alimentos seja a base de uma sociedade com mais saúde e, portanto, com melhores oportunidades de encontrar seus próprios caminhos de prosperidade e justiça social.
 

*Edmundo Klotz é presidente da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA).

 

 

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