Como não ficar refém do mercado

Por Marcelo Mariaca
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As empresas descobriram que, em tempos de escassez de talentos, uma das alternativas é a formação de lideranças dentro da própria organização. Não é processo rápido. Dependendo das exigências do cargo e do nível dos profissionais que serão preparados, pode durar de um a cinco anos.

Já no fim da década de 90 e princípio dos anos 2000, as empresas brasileiras começaram a se preocupar com a formação dos sucessores de suas lideranças. Essa atitude coincidiu com o aumento dos processos de abertura de capital e profissionalização das organizações nacionais. Hoje, as empresas procuram mapear as oportunidades e necessidades futuras e os candidatos que poderão vir a ocupar os cargos quando seus titulares se afastarem por qualquer motivo – promoção, demissão, aposentadoria etc.

Os próprios executivos, cada vez mais, estão optando por empresas que lhes oferecem mais oportunidades de crescimento profissional e de promoções. Quando se elege pela primeira vez vereador de uma capital, o jovem político logo começa a sonhar em ser deputado estadual, deputado federal, senador, prefeito, governador e – por que não? – presidente da República. Grande parte dos jovens que se candidatam às cobiçadíssimas vagas de trainee oferecidas pelas maiores e melhores empresas também ambiciona atingir o topo e se tornar CEO.

Para a empresa, preparar lideranças é uma questão de sobrevivência. A organização que forma um estoque de líderes dentro de casa fica menos dependente do mercado, da concorrência selvagem e do leilão de salários. Essa é, sem dúvida, uma política acertada, mas não significa que a organização deixará de ficar totalmente refém do mercado. Por vários motivos.

Com a expansão da economia e das atividades das empresas, aumenta muito o número de posições de liderança a serem ocupadas – gerentes, supervisores, diretores, vice-presidentes. Nas grandes organizações, esses cargos contam-se às centenas. Portanto, não é uma tarefa fácil investir na formação dos talentos, sem contar os recursos financeiros.

Além disso, com o acelerado processo de aquisições e fusões e a incorporação de novos negócios e inovações, as organizações passam a demandar talentos com especializações e habilidades que não são encontradas dentro de casa. E não haveria tempo para formá-los. Daí a necessidade de contratar headhunters para buscá-los onde estiverem.

Outro obstáculo é ambição do executivo. As poucas pesquisas existentes mostram que, de um modo geral, os profissionais, incluindo executivos, estão satisfeitos no trabalho. Mas os executivos entendem que não podem ficar parados muito tempo numa posição ou numa organização, razão pela qual, mais do que no passado, estão abertos a novas oportunidades. Tudo depende de como a empresa atual faz para retê-los, não só por meio da remuneração e benefícios, mas, sobretudo, pelas oportunidades de crescimento profissional e pela oferta de condições para que eles possam melhorar a qualidade de vida, atributo cada vez mais valorizado na vida corporativa.

Marcelo Mariaca é presidente do conselho de sócios da Mariaca e professor da Brazilian Business School.

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